sexta-feira, 23 de julho de 2010

Sentimentos X Racionalização [parte 1/2]

Na década de 80, o mundo se encantou com o filme E.T. Extraterrestre. O roteiro do longa metragem dirigido por Steven Spielberg, narra a história de um extraterrestre, vindo de uma civilização mais avançada. Por um acidente, esse ser vem parar na Terra. A mensagem central do filme baseia-se no duelo entre crianças que amavam esse ET, versus, cientistas que gostariam de estudar esse ser tão anormal.

O interessante, é que os vilões de E.T. não são apenas cientistas que querem o progresso científico. São cientistas que estão dispostos a fazer com que o amor desapareça completamente, em nome do progresso científico. Dois anos depois do lançamento de ET, outro filme possui o roteiro semelhante. Splash Uma Sereia em Minha Vida conta a história de uma sereia que chega a uma praia desejosa de amor e carinho. Porém, alguns cientistas desejam capturá-la e dissecá-la.

Entretanto, a capacidade humana de raciocinar, criar, e sistematizar as coisas são consideradas uma das nossas maiores glórias. Em contrapartida, nossa própria razão nos diz que a razão possui limites. Por exemplo, dissecando um sapo, você terá muitas informações e fará descobertas científicas, mas não terá mais um sapo. Se você dissecar uma sereia, ou um extraterrestre, provavelmente fará várias descobertas. Até mesmo poderá ganhar um prêmio Nobel, mas não terá um amigo com quem conversar, dar e receber amor, como ambos filmes propunham.

As melhores e mais brilhantes mentes do governo norte-americano levaram milhares de militares ao Vietnã para lutarem numa guerra sem sentido. Essas mentes possuíam inteligência, mas faltava-lhes sabedoria. Uma das várias definições que sugiro para sabedoria é: O sentimento instintivo de colocar em prática as informações que se tem. O sentimento...

Por falar em sentimentos, os ensinamentos de Freud, pai da psicanálise, diz que tudo o que fazemos possuí uma razão lógica. Porém, provavelmente, esse "tudo" que nós fazemos, possuí uma razão que não conseguimos entender. É como se você fizesse algo, e pensasse: "Por que fiz isso?" e respondesse: "Ora, por que amo". E logo em seguida pensasse: "Mas por que amo?" e simplesmente, ficasse sem resposta. Como disse Blaise Pascal, filósofo, matemático e amante da teologia. "O coração tem razões que a própria razão desconhece".

O que quero discorrer aqui, diz respeito ao duelo: sentimentos X racionalização. Existem pessoas que tem medo de se abrirem emocionalmente para os sentimentos. Sejam eles de amor, alegria, raiva, ira, entre outros. Essas emoções as fazem perderem o controle de si mesmas. E essa idéia, de ter algo que fuja do seu controle, é extremamente amedrontadora. E mais que isso, a dor diante de uma possível desilusão, as faz se protegerem, usando sua mente brilhante para racionalizar os sentimentos e as relações humanas a um nível nulo. A um nível de "indiferença" em relação aos sentimentos.

Às vezes, quando estou (de passagem) por algum lugar, me pego pensando, sobre o que é realmente mais benéfico. Abrir-se e correr os riscos da felicidade e da desilusão, ou fechar-se e não aproveitar tanto da felicidade, quanto da desilusão. O que é realmente melhor? Alguns soldados da segunda guerra mundial, não possuíam amigos. Eles simplesmente decidiram não se apegarem ao soldado da beliche ao lado. Por que sabiam que, no próximo dia, seu novo amigo pelo qual tinham tanto carinho, poderia morrer, e isso o traria muito sofrimento.

E você, como age? Como sente? Como vive?

Gostaria que esse texto fosse um diálogo entre texto e leitor, para isso, preciso do seu comentário, dê sua opinião!
No próximo post, falarei sobre como eu ajo, penso e sinto; e concluirei o assunto.

Fonte: KUSHNER, Harold. Quando Tudo não é o Bastante. Editora Nobel, São Paulo, 1999.

12 comentários:

  1. Pastor Allan,

    Falando dessas coisas vc me instiga a falar muito... Vou tentar sem mais objetivo!

    Cara... Somos racionais, somos homo sapiens sapiens, (homem que sabe que sabe), e as vezes eu me pergunto se esse "saber" é bom?
    As vezes nos comportamos como se soubessemos de tudo, como se tudo fosse previsivel e estivesse sob o nosso controle.
    Mas a diferença básica entre nós e os animais (seres que não sabem... e não sabem que não sabem), é que a gente consegue processar as experiências aprender com elas, e aprimora-las passando de geração pra geração esse aprimoramento. Os animais por sua vez, não conseguem isso... são viciados em experiências, repetem tudo exatamente como sempre fizeram.

    Quando a gente não consegue se abrir para os sentimentos, estamos repetindo a forma de pensar dos animais, que não coseguem aprimorar as vivências boas e ruins.
    Estar aberto a sentimentos, é viver! Viver é amar, iludir, se iludir, se entristecer, se alegrar, se surpreender...
    Viktor Frankl, criador da linha logoterapia, descobriu que pessoas que tem objetivos na vida vivem mais! E ele descobriu isso nos campos de concentração nazistas, pois ele esteve lá, e notou que pessoas que tinham parentes e pessoas queridas (que eles amavam) fora dos campos, viviam mais!
    Viviam pq acreditavam em algo maior...

    Agora respondendo a sua pergunta...
    Eu sou muito racional, acredito que os relacionamentos são verdadeiros e motivados por interreses de ambas as partes, e que são plenamente justos e nada "falsos", procuro me policiar na pratica de ser racional com sentimentos, pq acho que as pessoas se aproximam pq gostam "se interressam" umas pelas outras e isso é muito natural... quanto mais eu penso... menos eu permito isso de forma natural...
    Enfim, procuro cativar um numero razoável de pessoas... e sigo a risca o pensamentos de Antoine de Saint-Exupéry "tu te tornar eternamente responsável por aquilo que cativas"

    abraço, Mano.

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  2. Achei muito legal seu post, Allan!

    Me fez lembrar de uma aula da Lisliê (Linda...rs).Sabe que as aulas delas sempre me fazem pensar muito, e nessa aula ela falou sobre as três maneiras básicas que Deus tem de se relacionar com a humanidade. A primeira é a revelação geral, a natureza; a segunda é a revelação especial, a Bíblia; e a terceira, por incrível que pareça pra muitas pessoas, é a própria Razão. A razão é um dom que Deus nos deu pra que pudessemos compreender as revelações geral e especial, portanto, ela deve ser usada sempre em nossa vida.

    Somos seres pensantes, Deus nos criou seres racionais pra que pudessemos compreender Seu plano pra nós, e pra que vivessemos por uma causa maior!

    Beijinhos, Allan! Saudades

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  3. Adorei seu post Allan.. com o que escreve aqui, você sempre me instiga a rever meus conceitos e a me "permitir" à novas ideias.

    Como citado aqui em cima, "Somos seres pensantes", portanto além do livre-arbítrio que nos é concedido, tanto a emoção como a razão é inato à nossa criação. Nascemos com esses dois aspectos mas conhecemos eles de forma "crua". Conforme o tempo vai passando vivemos certas experiências que nos permitem um contato melhor com aquilo que já conhecíamos de uma forma subjetiva (o que é o caso do empirismo). Então conforme vamos vivendo esses dois fundamentos vão se tornando mais presentes de acordo com o que escolhemos. Se queremos agir de forma mais fria, teremos um contato maior com a razão, e assim funciona ao contrário com o sentimento de emoção.
    Muitas pessoas se julgam mais inteligentes por sofrerem menos pois fazem da razão o seu "ponto de fuga". Não discordo, pelo contrário, em partes acho que quando agimos de forma mais racional nos privamos de certos sofrimentos mas tenho que lembrar também que, quando agimos de forma racional nos privamos de certos sentimentos e emoções. Nos privamos de viver muita coisa. Ser um total racional não é a saída apropriada, pois o uso da razão não serve de muito sem a sabedoria, que nada mas é do que um grande sentimento. Portanto acho que, como Deus nos fez conhecedores desses dois opostos, foi porque Ele sempre teve um plano - no qual se resume a nossa felicidade, baseada na razão do maior sentimento existente, o amor dEle por nós.

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  4. Guilherme...
    Você comentou que se policia quanto a "ser racional com os sentimentos"... interessante isso, interessante perspectiva... se dar a liberdade para viver... gostei... rsrs

    Carooooolll... rs
    Linda a aula, ou linda a Lislie? Ou as duas? rs
    Interessante o que você disse, fez surgir umas perguntas na minha mente... seria a razão um dom para entender as emoções? Ou as emoções não se entendem? Bom questionamento neah? rs! Valeu! Beijinhos, saudades também!

    Líziee...!!
    Você falou dois pontos que achei primordiais...
    1º Nascemos com os dois, razão e emoção... com as experiências da vida, os dois são trabalhados e optamos por uma maneira que norteie nossas ações...
    2º Creio que a sabedoria é composta de vários elementos, não só a informação. E um desses elementos, é a emoção. Creio que para ser sábio devemos usar as emoções também... O interessante, é que precisamos ser sábios. Ou, podemos ser inteligentes como as mentes do governo norte-americano citadas no post.
    Inteligência/razão e emoção... amigas ou inimigas?

    Abraços! Valeu galera!

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  5. O maior erro é acreditarmos que razão e emoção são inimigas, são opostas. Conceitos dessa ordem são formados pois simplificamos esses dois aspectos comportamentais. Desde crianças relacionamos sentimentos ao coração e a razão ao cérebro. Apesar de que ao longo do tempo aprendemos que o coração nada sente, e que os sentimentos estão ligados ao cérebro, continuamos acreditando nessa distinção.

    Os sentimentos estão ligados ao cérebro. São processos neurais que nos fazem amar e odiar. E são esses mesmos processos que nos fazem mudar totalmente de sentimentos. A inteligência e a emoção podem estar ligadas. Tanto que a emoção é um dos vários segmentos da inteligência, a inteligência emocional.

    Quando levamos aos extremos a razão e a emoção, colocando-as em posições paradoxais, também levamos as nossas atitudes ao extremo. Optamos por total racionalização com a ausencia de sentimentos. Ou levamos uma vida sentimental, sem razão alguma.

    E a pergunta fica, onde está o equilíbrio? A inteligência emocional entra justamente aí. Pois ela é a habilidade de lidar com os sentimentos e não esquecer da razão, e vice versa.

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  6. Sim, concordo plenamente com você Aline. Muito bonito tudo isso, e você tem razão. Só se esquece de uma coisa. A teoria diverge da prática (nem sempre, mas nesse caso, acho que sim). É muito difícil, se não, impossível achar esse equilíbrio. E às vezes, sobre essa capa de "inteligência emocional", sistematizamos as emoções e os sentimentos. Isso não deixa de ser uma forma de racionalização.
    Não é tão simples quanto parece. Concordo que a inteligência e as emoções são aliadas, vou falar sobre como vejo isso...

    Valeu!

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  7. Allan, claro que é um ideal. Claro que é impossível atingirmos totalmente esse equilíbrio, afinal, somos humanos.

    Mas a teoria nos ajuda a enchergarmos o que pode ser melhorado na prática. É como se fosse um espelho das emoções. Nos revelando aquilo que é certo e errado.

    Obviamente não é simples, como disse Caetano Veloso na música Dom de Iludir. "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".

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  8. Nossa.. que blogger ótimo.
    Adorei, estou lhe seguindo
    ;)

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  9. Estive a ponderar um pouco sobre o assunto e não vejo diferenças entre razões e emoções. Explico-me:

    Antes de considerarmos os pontos em que esses dois aspectos diferem, seria primordial analisar de onde emergem. Será que são tão diferentes assim? Considere água líquida e, ao lado, um cubo de gelo. Obviamente existem diferenças físicas na maneira em que se apresentam; porém, a matéria inerente aos dois objetos não difere. Note que a única e exclusiva diferença jaz na “maneira de se expressar”. Agir de forma racional ou emocional não anula a necessidade de expressar-se. Assim sendo, onde há motivos racionais podem também estar contidas emoções que nos impelem a racionalizar; assim como na maneira emocional de agir podem abarcar racionalizações desconhecidas.

    Onde está a diferença? Quem é mais digno nesse caso? Onde há o mérito do emocional e do pensador?

    Representam as mesmas criaturas, porém, expressando-se de maneiras diferentes e impulsionadas pelo mesmo desejo... sabe-se lá qual :P rsrs

    Essa foi minha maneira emocional de racionalizar o problema, além de ser uma tentativa racional de torná-lo emotivo; porque não há diferença...

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  10. E digo ainda mais, a água tanto pode ser líquida, sólida na forma do gelo e gasosa. Entra aí novas vertentes para a questão. O que seria então a forma gasosa no embate razão x emoção? Se é que esse embate existe. A forma gasosa seria aquilo que tinha tudo pra ser e não é? Aqueles mistperios que nem a razão e nem a emoção podem explicar?

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  11. Bom, Aline,
    Utilizei-me do exemplo da “água e do gelo” apenas como mera analogia, não como verdades absolutas; não foi minha intenção resumir a dinâmica dos sentimentos com água, rsrs! Porém, ainda acredito que sua observação pôde complementar, e muito.

    Não anulo, entretanto, o fato de considerar perigoso sistematizar esse tipo de dinâmica... deveras, é algo complicado e fora do comum!

    Porém, afim de concretizar minha opinião, volto a resumir o que achei: “A razão está imbuída de emoções assim como as emoções comunicam razões desconhecidas, de forma que não há diferença entre ambas.”

    Se existe algo além disso, Aline, acredito que vale a pena conferir =]

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  12. Procurando uma definição para a questão "racionalizar sentimentos" acabei caindo aqui. Não por acaso. A questão me atormenta, me sinto pecadora do pecado de racionalizar ou seria o de pensar?!
    Seja como for, resolvi escrever tão somente porque acabo de ser libertada, absolvida do meu pecado. Felipe Sal e seu questionamento me deram a resposta que eu precisava.

    Grande debate. Obrigada!

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